30.4.10

Solidão

Ando desejando a solidão. Não repleta de escuro ou de desespero. Só queria um momento meu. Daqueles que eu tinha sentada no meio-fio, fumando um cigarro só meu, sozinha comigo e meu pôr-do-sol. Não tenho vontade de me desprender da realidade, só de deixar um pouco as responsabilidades e compromisso do lado, pegar um ônibus para qualquer lugar e viajar ao som e ao vento da estrada. Sozinha.

Ainda me lembro da sensação de observar o verde passando, com aquele cheiro de mato, quando escuto algumas músicas do passado. Essas que só tem efeito em situações isoladas e quando estou sozinha. Sinto falta até mesmo de passar essas duas horas entre uma aula e outra estudando, ruminando, pensando com meus botões. Gosto de observar as pessoas passando e analisar quem eu acho que seria legal ou não. Gosto de fantasiar situações, vitórias e derrotas.

Esses dias senti falta da minha veia publicitária. Essa que, em alguns momentos, se animava em idéias "eureca". Não faz muito tempo que tive idéias assim, mas sinto falta ainda. Não sinto falta do estresse da profissão. Só do criar.

Mas sinto falta dos ônibus. Ao som de Placebo, Garbage, White Stripes e as misturas loucas que eu gravava em CD. Época pré-Ipod. Sinto falta do cheiro de mato, do desconforto do banco do ônibus, da música "Excuse-me Mister" do No Doubt tocando enquanto observo o asfalto passando ao ritmo da música.

Sinto falta de pensar em mim. De viver para mim. Da leveza e da dureza da solidão.

Não quero ela por inteiro. A mim bastaria o meio-fio, um cigarro e o pôr-do-sol. Com pessoas desconhecidas passando e imaginando o que será que eu imaginava. 10 minutos seria o bastante: eis o tempo do cigarro calmo, sem ansiedade; dez minutos.