3.12.10

POÉTICA EM 3ª PESSOA

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar. Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar. Se aproximou do jeito que nunca soube fazer. E a abraçou sabendo que não sabia abraçar.
Ele olhou para os olhos dela, mas nada conseguiu ver. Ele beijou um beijo e não sentiu prazer. Ele se afastou por não saber o que fazer. E fugiu sem saber para onde ir.
Ele nunca saiu do lugar. Era sonho. Eram devaneios de uma mente que nega escutar. Mas ele ouviu o que não queria ouvir.
Não dava mais. Não para ela, pelo menos. Ela conhecera outro. Ela não disse isso, mas ela deve ter conhecido. Que outro motivo teria para acabar assim? Sei que as coisas não eram um mar de rosas, mas era nós. E nós éramos um casal. Mas ela não queria mais o ser. O certo é que estava acabado. Estava acabando, mesmo sem ele querer acabar.
Eu não queria acabar. Lembrava do começo e de todas as coisas boas que vivemos. Não lembrava de nada ruim. Naquele momento estava tudo perfeito como deveria ser. Mas ela parecia estar enlouquecendo. Por que? Para onde ela vai? Depois de tanto tempo, como ela vai fazer para se acostumar com minha falta?
Talvez devesse perguntá-la. De repente eu aprenderia e seguiria o mesmo caminho que ela. É provável que ele andaria o caminho contrário que ele queria andar. Ele chegaria sabe lá onde, se ele chegar. E andaria aos tropeços, sem saber para onde ir, pois não há luz no caminho contrário.
De repente eu poderia ir pelo mesmo caminho dela, pela luz. Podemos ser amigos. Por que não? Um monte de ex-casal o faz agora. Chama-se civilidade. A gente pode continuar morando juntos. Eu posso cozinhar para ela e ela pode me fazer a velha massagem nos meus pés antes de dormir. A gente pode ver um filme cult juntos, debaixo das cobertas, comendo pipoca salgada e dividindo vários copos de coca-cola. E eu poderia ajudá-la a escolher um namora... O quê?!?!
O que eu estou falando?!?! Ela não me quer mais! E ele só cozinhava quando tinha que cozinhar. Ele só se preparava quando tinha que se preparar. E ele só era especial quando o tinha de ser.
Ela disse: “não dá mais”. E eu achava que dava. Mas ela achava que não.
Ele não chorava, mas tinha que chorar. Guardava as lágrimas para mais tarde, quando ele estaria sozinho do jeito que não queria estar. Ele deitaria na cama sozinho, sem querer deitar. Ele fecharia os olhos, para ainda não se deixar chorar. E abraçaria o travesseiro dela, coisa que ele não deveria fazer.
Mas ela continuava a dizer coisas que ele não conseguia ouvir. Estava com os ouvidos fechados, pois não queria pensar. E ela falava:

- Não dá mais.
- O que?
- Isso?
- Quer ir para outro restaurante?
- Não!
- Não estou te entendendo.
- Acabou! Não dá mais para mim!
- O que acabou?
- Nós!
- ...

E ele pensava em tudo que não deveria pensar.

- É por isso! Por isso que eu não aguento mais!

E ele saía em devaneios, e não deveria devanear.

- Parece que eu estou falando com uma parede sem...

E ele voava como não deveria voar.

- Nem olhar para mim você olha! Parece que não quer...

E ele caía como não deveria cair.

- Você fica calado olhando pro nada!

E ele morria como não deveria morrer.

- Chega! Eu vou embora!

E ele morrera como não deveria ter morrido.

- Adeus!

E ela o deixou como não deveria tê-lo deixado.
Ali. Morto. Traído. Assassinado por sua própria poética.

2.11.10

Lágrimas

"... obrigo-me a chorar para provar a mim mesmo que minha dor não é uma ilusão: as lágrimas são signos, não expressões. Por minhas lágrimas, conto uma história, produzo o mito da dor, e assim posso acomodar-me a ela: posso conviver com ela, porque, chorando, dou-me um interlocutor enfático que recolhe a mais 'verdadeira' das mensagens, a de meu corpo, não a de minha língua: 'Palavras, que são palavras? Uma lágrima dirá bem mais.'"
(Roland Barthes - Fragmentos do Discurso Amoroso)

21.10.10

PALAVRAS e o bloco de papel amarelo

Dentro de um quarto fechado, Timóteo, mais conhecido como Tito, tentava escrever algumas palavras. Ele estava sentado em sua cama de casal. O cobertor era vermelho, rubro, e o lençol branco aparecia na cabeceira da cama, assim como as fronhas brancas dos travesseiros fofos nos quais ele se encostava. Estava sentado com os joelhos recolhidos. Um bloco de papel amarelo estava encostado contra os seus joelhos. Tito batia o lápis contra o canto superior direito do bloco, às vezes acertando o próprio joelho, mas não corria risco de hematomas algum.
De tanto olhar para o papel, as paredes começaram a mudar de cor. Sua vista desfocou e o quarto começou a girar. As paredes brancas mesclavam com as cores dos quadros de rock dos anos 80 pendurados na parede. Colocou para o lado o bloco de papel amarelo e o lápis de cabo azul metálico. Tito escorregou para deitar-se. O mundo continuava rodando. Agora as cores misturavam-se com o som que saiam dos quadros dos anos 80. A escrivaninha já tinha se transformado em um borrão marrom, parecendo que alguém tinha jogado algo que ele não queria verbalizar para não se lembrar do cheiro. A luz se apagou, mas tudo continuou a rodar claramente. As cortinas de pano da janela pequena tentavam se juntar às cores. Demoraram um pouco mais, pois estavam presas e tardaram para se soltar. O azul e o verde lá de fora já tinham invadido o quarto.
Tito não sabia o que fazer. Fechava os olhos e parecia navegar. Abria os olhos e via tudo girar. Começou a praguejar mentalmente. Ele reclamava do bloco de papel amarelo. Fora tudo culpa do bloco de papel amarelo. Ah! E do lápis azul metálico também. Se o bloco não fosse amarelo, talvez nada estaria assim. Se tivesse comprado o lápis preto ao invés do azul metálico, não estaria numa montanha-russa de arco-íris e paletas de cores borradas. Ele fora obrigado a estar lá. E Tito nunca gostou de montanha russa, simplesmente porque ele não estava em controle. Ele precisava estar em controle. Não era questão de poder, mas de segurança. Tito se sentia seguro quando estava no controle. Ele não confiava nos cintos de proteção das montanhas-russas. Muito menos depois de ter escutado algumas várias histórias de pessoas caindo do carrinho, sem chance nem de gritar alguma palavra inteligente antes de morrer. Já fora à uma montanha-russa. Saiu de lá mais branco do que sua pele branca de falta de sol. Seu olho estava cheio de lágrima, mas não deixou-as cair. Apenas deixou os olhos abertos para que o vento secasse. E quando percebeu seus pés no chão e o controle quase nas suas mãos, acalmou-se. Ele não precisava do controle de tudo, só a metade.
De repente o quarto pára de girar. A escrivaninha volta a ser escrivaninha. A cortina se cola acima da janela e as cores verdes e azul voam felizes em direção da liberdade. O amarelo ia esmaecendo e o azul metálica voltava para o lápis. Tito lembrou porquê comprara o lápis azul metálico: era pelo reflexo que o metálico fazia quando ele segurava o lápis para escrever. Era poético.
Aos poucos Tito se levanta até encostar-se meio sem jeito, meio pela metade, contra o travesseiro que nunca tinha deixado de ser branco. Mesmo com os pés descalços na cama, ele se sentia calçado e com os pés no chão. Parecia que as coisas estavam mudando. O barco tomava uma nova direção e por mais que ele não sabia para onde o barco ia, ele se sentia seguro. Uma grande reviravolta filosófica para quem precisava sempre estar no controle. O barco ia com a maré e Tito seguia, sentado sozinho no centro de um barco sem vela. Ele começava a ficar moreno com o sol e o sorriso prendia no seu rosto.
Como não tinha mais medo, pegou o bloco de papel amarelo e o posicionou no seu colo. Agora só tinha ele, o barco, o bloco de papel amarelo e o lápis azul metálico no meio de um vasto azul não metálico do oceano sem terra à vista. Começou a escrever: “Eu tinha que escrever palavras de inspiração sobre palavras que, para mim, nada diziam. Eu pensava que estava seguro com as palavras. Eram minhas e de mais ninguém. Me apropriei do seu significado como um ciumento apropria-se do que é dele. Não são minhas. Elas correm de mim. Elas têm medo de possessividade. Eu achei que estava no controle das palavras, até descobrir que não tenho nem controle da palavra controle. Sou eu que digo o que elas são? Essas palavras, o que são elas? O que você, que me lê, entende? São apenas palavras escritas com um lápis azul metálico e jogadas num bloco de papel amarelo. Será que eu tenho controle? Ou será que ela me controla? Ou será que a palavra é um alguém fugindo do medo, em busca de controlar o que ela tem como direito? Estamos destinados a ser verbalizadores, guardiões e carcerários de palavras. Somos ruins, pessoas más com as palavras e um com os outros. Digo que essa palavra é minha e logo vejo-a sendo roubada pelo meu melhor amigo, que será roubado logo após por um completo desconhecido. Mas descobri o mistério das palavras. Com ajuda do meu bloco de papel amarelo e meu lápis azul metálico eu alcancei um paradoxo. Essa palavra que agora vos escrevo são minhas. Apropriadas por mim, sob meu controle. E, ao mesmo tempo, vejo-as soltas, libertadas pelos olhos de quem lê. Então, as palavras sorriem quando nelas eu encosto. Elas sabem que nas minhas mãos elas estarão bem. Não porque cuido bem delas, mas por lhes permitir uma viagem maior, mais distante. E as palavras amam viajar. Não quer dizer que escrevo bem. Digo apenas que escrevo e dou poder àquelas que me permitem ser/estar quase no controle”.

by Liana Guterman

7.9.10

et mes amis, où sont-ils?

Une fois ou d'autre je me sens comme ça. Je n'ai personne. Aucune à qui parler. Je suis toute seule. Et je me rapelle d'une musique d'Adriana Calcanhoto. Elle dit: "et mes amis, où sont-ils?"

Parmi mon chemin je les ai perdu.

Et un autre voix me dit: "trouvez-les, trouvez-les". Je me sens enfin bien. Et je ne les trouve jamais.






On ne peut pas retrouver qu'est-ce qu'on avait déjà perdu. On ne le retrouve pas.

3.8.10

Linus

A cada dia que passa a vida nos liberta da possessividade que adquirimos com o decorrer dos anos. Hoje perdi meu gatinho. Relutei à decisão de deixá-lo partir. É difícil. Eu sei que ele está melhor agora, mas a dor de não tê-lo por perto... dói. Simplesmente dói. Lembranças passam em frente aos meus olhos fechados. Não consigo mantê-los secos. O dia inteiro passei assim. Me distraindo e pensando nele. Ele: tão pentelho e tão doce. Ele não tinha nem um ano. Dói. Eu o queria para sempre, sem nem saber o que sempre significa. A gente segue e ele se foi. Ele deixou marcas, deixou fotos e vídeos. Quando irei finalmente sentí-lo ido? Às vezes acredito que ele ainda está no veterinário melhorando. Até lembrar que nunca mais irei vê-lo senão por fotos (imagem da imagem que se foi).

Fique bem meu gatinho. Onde quer que estejas. Fica em paz. Eu te amo para sempre.


27.5.10

"Vamo lá, né?"

O que significa um porteiro na vida das pessoas? Porteiro, segurança, sei lá? Não sei como chamá-los, mas ainda pergunta: o que eles significam para você?

O abridor da porta? O cara que não vai deixar nada acontecer com seu prédio ou sua casa ou, pelo menos, é o que esperamos?

Para mim é o cara que me dá um "empurrão" toda vez que saio de casa com seu discurso curto e profundo:

"Vamo lá, né?"

Meu dia de faculdade e trabalho fica mais motivado com essas curtas palavras. Estranho, não é?

(Não esqueçamos o sorriso otimista)

22.5.10

Leveza

São poucas as vezes que o acaso aparece. E hoje eu estava leve até demais. Leve demais para quem acordou atrasada para o trabalho num sábado de manhã. Não sei ao certo se deveria ficar irritada porque acordei atrasada ou porque eu trabalho no sábado de manhã. Não acho humano trabalhar de manhã. Não funciono bem de manhã para trabalhar. Partem do princípio que estarei acordada para entender a pergunta dos meus alunos. Doces enganos. De manhã eu não existo muito bem - para trabalhar. Para estudar eu sou muito boa. Eu prefiro ir para aula de manhã e estudar. É meu momento quieto e individual de martelar com meus martelos os pregos soltos e tirar os pregos presos da minha mente.

Mas voltando ao caso. Hoje acordei leve. Andei leve até o trabalho. Dei aula leve - demais. Ok´s demais. Don't worry's demais. Eu estava relax demais. Ou lenta demais? Eu estava. E não sabia depois como estar. Não tinha fome ao meio dia. Não tinha sono. Não tinha vontade.

E aí ela veio. Uma vontade por um beijo, dois, três em caminho à um banho que antes eu não tinha vontade e agora eu estava desejando - não desejando o banho, é claro. Só sei que foi. E eu pensava no que fazer depois e nada vinha à mente. Simplesmente o momento estava ali, sem preocupação nenhuma. Eu não tinha fome, sono, cansaço. Eu estava leve. Acho até que planei por alguns segundos. Não sentia mais meus pés contra o chão. Eu estava leve demais.

Agora a leveza chegou aos meus dedos e eu digito, mas sem sentir. E sem tremer palavras erradas ou erros de português. Simplesmente porque estou leve demais hoje.

Minha calça tá passada. Hora de ir.

20.5.10

ce qui me touche

"La position de cet astre en secteur situe le lieu où l'être dégage au maximum son individualité dans une voie de supersonnalisation, À la faveur d'un développement d'énergie ou d'une croissance exagerée qui est moins une abondance de force de vie qu'une tension particulière d'énergie. Ici, l'être tend à affirmer une volonté lucide d'independence qui peut le conduire à une expression supérieure et originale de sa personalité. Dans la dissonance, son exigence conduit à l'insensibilité, à la dureté, à l'excessif, à l'extremisme, au jusqu'au'boutisme, à l'aventure, aux boulerversements."

Caio F. Abreu. Morangos Mofados. O dia em que Urano entrou em Escorpião
.

Não que eu entenda o que aqui se diz. É que hoje estou um pouco em francês. Quase não fui e acabei indo. Acabei me escutando falar um francês perfeito numa sala de aula de nível intermediário. Nem era a minha voz. Era somente a imagem do meu cotidiano na voz de uma francesa que fala japonês.

Voltei para casa para procurar meu conto preferido de Caio F. Abreu. Somente para poder comentá-lo amanhã. Emocionei de novo. Acho tão simples. Tão tão simples essa história que não sei. É de uma sensibilidade inevitável. Me toca. Me emociona. Me deixa de olhos lacrimejantes e com os dedos arrepiados e coçando. Eis porquê estou aqui.

Acho que sou um pouco esse rapaz de blusa vermelha que recita francês.


19.5.10

Ta gueule

Aprendi hoje. Aprendi agora a escrever. E dedico tal aos professores ultrapassados e àqueles que não sabem o que dizem.

Não sei se foi bom ou ruim. Me sinto bloqueada. Não entendo direito mais. Achei que estava bem. Achei que estava melhorando e que estava no caminho certo. Agora... não sei. Me perdi no tempo e nas palavras. Estou cansada em plena quarta-feira. Isso não acontece muito.

Je suis fatigué.

17.5.10

Ele tem. Eles têm.

Ando lendo demais.
Ando estudando demais.
Ando correndo contra o tempo, utilizando todo o tempo, todas as brechas e reinados.
Ando tentando me achar.

Tento me achar em teorias que mal conheço e que discordo. Ando tentando descobrir como posso ser "Roland Bartheana" (aka. amante de Roland Barthes) e ao mesmo tempo não caminhar de acordo com o Estruturalismo. Como posso? Como poderei estudá-lo? O que fazer? Sob qual perspectiva tomá-lo?

Ando negando idéias comunicativas. "Se a comunicação é eficaz, não importa se a gramática é ou não correta. Contanto que a idéia consiga ser passada adiante". Me sinto velha. Não pelos mesmos motivos de antes, mas por defender o bom português. Esse que se perdeu a muito tempo com a internet e seus "vcs", "pqs", "naums" - que atire a primeira pedra quem nunca, na internet ou em mensagem celular, utilizou esses termos. Até eu já usei. Mas cresci. E comecei a ler e comecei a ficar chata. E comecei a desejar o bom português. Aquele gostoso de ler. Com ou sem palavrões da linguagem chula, mas gramaticalmente correto. E quando não, com "vcs" entre parênteses ou itálico. Mas o que é ser gramaticalmente correto?

Eu me acho um absurdo. Falando do bom português e errando estruturas gramaticais (pura licença poética).

Ando muito confusa.
Procurando onde depositar minha fé gramatical.
Ando procurando uma religião lingüística.
Ando sem saber por onde andar.
Ou com quem falar português.

Mas continuo admirando quem sabe usar o "têm".


Como alguém que aprende uma língua e quer praticar a conversação.

30.4.10

Solidão

Ando desejando a solidão. Não repleta de escuro ou de desespero. Só queria um momento meu. Daqueles que eu tinha sentada no meio-fio, fumando um cigarro só meu, sozinha comigo e meu pôr-do-sol. Não tenho vontade de me desprender da realidade, só de deixar um pouco as responsabilidades e compromisso do lado, pegar um ônibus para qualquer lugar e viajar ao som e ao vento da estrada. Sozinha.

Ainda me lembro da sensação de observar o verde passando, com aquele cheiro de mato, quando escuto algumas músicas do passado. Essas que só tem efeito em situações isoladas e quando estou sozinha. Sinto falta até mesmo de passar essas duas horas entre uma aula e outra estudando, ruminando, pensando com meus botões. Gosto de observar as pessoas passando e analisar quem eu acho que seria legal ou não. Gosto de fantasiar situações, vitórias e derrotas.

Esses dias senti falta da minha veia publicitária. Essa que, em alguns momentos, se animava em idéias "eureca". Não faz muito tempo que tive idéias assim, mas sinto falta ainda. Não sinto falta do estresse da profissão. Só do criar.

Mas sinto falta dos ônibus. Ao som de Placebo, Garbage, White Stripes e as misturas loucas que eu gravava em CD. Época pré-Ipod. Sinto falta do cheiro de mato, do desconforto do banco do ônibus, da música "Excuse-me Mister" do No Doubt tocando enquanto observo o asfalto passando ao ritmo da música.

Sinto falta de pensar em mim. De viver para mim. Da leveza e da dureza da solidão.

Não quero ela por inteiro. A mim bastaria o meio-fio, um cigarro e o pôr-do-sol. Com pessoas desconhecidas passando e imaginando o que será que eu imaginava. 10 minutos seria o bastante: eis o tempo do cigarro calmo, sem ansiedade; dez minutos.

3.2.10

A fist full of glitter

Quero postar sem ter o que dizer.

Quero jogar tudo para o ar (a fist full of glitter). Quero tornar-me invisível agora e sair correndo nua pela rua, sem o sol me queimar. Quero correr, correr e correr até cansar. Até esgotar minha respiração e eu poder sentar ao meio fio e chorar por volta de 20 segundos, seguido de um cigarro que não deveria ser tragado.

Quero fugir das mentiras, das brigas, das pessoas. Eu vou viajar, eu vou sumir.

A palavra invisibilidade para mim nada mais é do que a mais pura liberdade.

Sinto-me leve agora.

27.1.10

backwardsupsidedown

Ando me encontrando por aí nos meus amores e desgostos. Ando mais serena e mais nervosa. Ando mais estrangeira, francesa, inglesa. Ando descobrindo novas palavras para dizer o que um dia possa vir a querer dizer. Ando aprendendo a mexer a língua mais rápido e a garganta. Ando mudando de signo, procurando estabilidade em algum lugar. Continuo como sempre procurando padrões, formas de deixar as coisas cada vez mais simples. Ando andando sozinha. Ida e volta. Ando procurando ouvidos, mas não encontro sons para eles. Eu ando por aí pedindo para não ser vista, para não responder a questão da professora, pedindo para ser invisível.

Talvez eu esteja toda ao contrário e não sei.

Ou sei.

14.1.10

English is a strange language

Eu tenho que postar isso. Um dos textos mais interessantes que já li:
___________________________

English is a strange language

English is a strange language.
There is no egg in the eggplant
No ham in the hamburger
And neither pine nor apple in the pineapple.
English muffins were not invented in England
French fries were not invented in France.

We sometimes take English for granted
But if we examine its paradoxes we find that
Quicksand takes you down slowly
Boxing rings are square
And a guinea pig is neither from Guinea nor is it a pig.

If writers write, how come fingers don't fing.
If the plural of tooth is teeth
Shouldn't the plural of phone booth be phone beeth
If the teacher taught,
Why didn't the preacher praught.

If a vegetarian eats vegetables
What the heck does a humanitarian eat!?
Why do people recite at a play
Yet play at a recital?
Park on driveways and
Drive on parkways
How can the weather be as hot as hell on one day
And as cold as hell on another

You have to marvel at the unique lunacy
Of a language where a house can burn up as
It burns down
And in which you fill in a form
By filling it out
And a bell is only heard once it goes!

English was invented by people, not computers
And it reflects the creativity of the human race
(Which of course isn't a race at all)

That is why
When the stars are out they are visible
But when the lights are out they are invisible
And why it is that when I wind up my watch
It starts
But when I wind up this poem
It ends.

(Source: Allen Galbraith)

...

Worst then not knowing who your soulmate is, is knowing that you'll never be with her/him.

And that's why I cry in the end of the movie. Every time.

I just can't help to feel it. Maybe if I didn't watch it tonight...

...

things would be different.

11.1.10

Montanha Russa

A emoção do playcenter não acabou. Vira e mexe me pego pensando em voltar à montanha russa. Ao mesmo tempo lembro da sensação, mas penso que talvez, com a prática, me acostume com ela. Ou talvez penso em voltar nos momentos onde queria que nada mais importasse, mas tudo importa. Preciso voltar para as férias. Preciso me sentir de férias sempre. Sem estresse, sem pressa. Fazer tudo à hora ideal. Preciso de outros dias de montanha russa, seja esta qual for.

3.1.10

Playcenter

Fui no Playcenter. Primeira vez na minha vida que fui numa Montanha Russa. É russa mesmo. Antes eu tinha medo sem saber a sensação, mas com o novo ano resolvi enfrentar esse medo, achando eu que não seria nada demais. Quase morri. Não sirvo para essas coisas. Parece que se eu soltar as mãos, ou mesmo relaxar, eu posso cair e morrer.

Agora eu sei como é ir. E sei como é a sensação. E sei que para ir de novo é melhor começar com algo bem leve. BEM LEVE. Tipo carrossel.

Mas o melhor, o melhor foi na Loja do Playcenter. Lá vende pulseirinha "GLS". É a tal pulseirinha arco-íris. Um homem com a mulher e os dois filhos (um menino e uma menininha de colo) pede uma pulseirinha bonitinha de arco-íris para a filha. Depois de pegar ele recebe a informação do significado do arco-íris: não significa mais paz, como antigamente, agora é GAY. O cara solta a pulseira como se fosse pegar. Pensei, ao lado, olhando toda aquela cena: cuidado, não toque em mim, sou lésbica e contagiosa. O que a ignorância não faz hoje em dia não? Todo esse asco por uma pulseira arco-íris. Quem diria na minha época com todos aqueles desenhos da arco-íris, se não me engano: Rainbow Girl. Acho que é isso. Até hoje tenho uma fronha desse desenho. Ó céus! Será por isso? Será por tocar no arco-íris que "virei" lésbica? Ó céus, agora tudo faz sentido.

E como a brincadeira do cadeado que eu nunca gostei de brincar (aquela do "passa senão fede", ou engole o cadeado que não tem risco): passa senão vira gay. Não esquece o cadeado.

1.1.10

São Paulo

São Paulo não é uma cidade. É um planeta totalmente diferente.

São Paulo é como passar um dia dentro de casa e ainda assim ter o conhecimento de estar em outro lugar. O vento que passa é diferente dentro de um apartamento fechado, janelas fechadas. À noite luzes se espalham por todo lugar. Da minha varanda de casa vejo alguns prédios e o céu. Aqui vejo o escuro iluminado por estrelas de cada janela acesa.

Este ano pela primeira vez vi um céu lindo em São Paulo. Não falo mal daqui, pelo contrário, por hora e por vezes sinto respirar melhor aqui. Nasci para cidade grande. Mas nada se equivale à beleza do céu de Brasília.

Não troco minha cidade por nada, apesar de muitas vezes querer ficar aqui (contanto que seja sempre em férias).

Como amo esta cidade: São Paulo e seus barulhos.