20.9.11

Recomeço

Quando saíste por aquela porta, nenhuma lágrima se derramou. Uma sensação de alívio tomou meu corpo. Os ombros ficaram moles que se fossem pernas deixariam-me tombar. Não caí. Eu estava sentada observando a nova textura da parede. Novos desenhos se montavam na minha cabeça. Via o rosto de várias, vários, da vida. Eu vi a liberdade. Não pensava naquela hora, eu sentia. E sentia tudo muito certo, afiado. Sabia definir todas as sensações, eu sabia, eu sabia.

Era isso que eu queria, não era? Ser-me só, livre? Ser-me só e deixar-me sentir as emoções do só. As boas e as ruins. Mas eu falei isso no momento bom e menti para mim.

Senti a falta do ruim e não sinto mais. Essa angústia de dentro; remoi, agonia-me. A necessidade de alguém (não dela). Caminhei pelo lado errado e muito rápido. Tenho que voltar. Será que os pássaros já acharam as migalhas e me farão perder-me? Contudo/com tudo, com medo eu quero voltar. E o caminho está trilhado como se lá tivesse passado mais de mil vezes. E talvez passei.

O chão é vermelho. As folhas secas são vermelhas e muitas, mas nos deixam ver as pedras chatas, presas ao chão como pegadas que levarão a algum lugar. Mesmo com todas aquelas árvores derramadas, elas eram cheias, cabeludas, de caule marrom e folhas pretas da silhueta do sol atrás e não se sente. As folhas também parecem secas. É dia; mas está escuro na sombra, e frio. Até então, segurava sua mão. Ela estava lá olhando a beleza em volta, enquanto eu a abraçava. Meus braços se encontravam ao redor da cintura fina dela. Ela se encostava em metade de mim. A outra metade estava inclinada para trás, de braços abertos, como se quisesse voar. Se eu a soltasse, ela cairia nas folhas secas. Não se machucaria. Ou talvez sim se batesse a cabeça na grande pedra, que de praxe me serve de banco ou encosto. Seus cabelos tombavam para trás e seu sorriso brilhava num feixe de luz que só a iluminava. Mais nada, mais ninguém. Lindo, linda, paz. Uma felicidade gritante me consome. Gasto-a toda, de uma vez. De uma só vez, sem moderação. Olho-a, fito-a. E fecho meus olhos. Seria a última vez que eu a veria. Mesmo sentindo-a ainda abraçada a mim, ela não está mais lá. Nem ela, nem o feixe de luz. Agora faz frio e está mais escuro. Me encosto naquela pedra e deixo uma lágrima cair. A pedra está quente e me aquece, enquanto eu a refresco com uma lágrima. Só uma lágrima.

É aqui que me encontro. Não mais encostado na pedra. Levanto-me, deixo minha cabeça pender para trás e olho para cima. Ainda tem esperança. Vejo o caminho de volta. O outro de ir para a frente também. Não sei onde ela está e tenho vontade de seguí-la. O caminho para frente são vários, vários.

Quando comecei a escrever, já havia me sentado na pedra com meu lápis e meu bloco de papel amarelo, pensava em voltar ao início. Agora eu não sei mais. Voltar é covarde ou prudência? Seguir é burrice ou ousadia?

A pedra me abraçou. Vou dormir aqui por alguns segundos, minutos, horas. Vou ficar aqui até o vento bater; e me levar para onde quiseres que eu voe.

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