Se as pessoas criam personagens/imagens, permita-me então, criar um eu, como uma criança teimosa que quer ser do jeito que ela bem entender - e que não sou.
Eu seria uma fantasia alta, quase altiva. Colorida, não como um palhaço, mas uma cor que chamasse atenção das outras cores que não chamam. A blusa seria em tamanho maior, sobressaindo-se do tamanho do meu corpo, caindo para um lado, como se eu não tivesse escolha e se pudesse cair. A calça seria justa, com culotes mais avantajados para brincar de bobo da corte quando assim me desse vontade. Usaria sapatos de couro vinho com desenhos femininos, costurados em sua lateral. Penso nesses sapatos que acho deveras lindo, mas não os compro porque não saberia com o que usar. Para terminar o personagem, haveria uma máscara, claro. Um máscara prateada, glamourosa, estonteante. Brilhante ao redor e com cores desenhadas nela, por um artista que não eu, pois não tenho traços assim marcantes.
Apesar da exatidão da escolha da roupa, ela não seria exata. Como todos no mundo, ela teria defeitos - até porque minhas habilidades de costura não permitem perfeição. Ela teria costuras duplas, algumas linhas soltas, alguns fios à mostra e algumas falhas de ponto. Teria alguns buracos de costura usada e desgastada, bem como uma pessoa que já viveu o bastante para os tê-los. Algumas linhas são visíveis, mas os desgastes são recalcados. Aparecem de bem perto, mesmo que não necessitem tamanha atenção para vê-los.
Para completar o look e deixar a coisa mais exótica, pequenas luvas cobririam minhas mãos, como se eu tivesse nojo de tocar algo com a palma, mas não com as pontas dos dedos. Protegeriam meus pulsos e parte da minha mão. Seriam de listras de tons de azuis claros, quase brancos. Permitiriam anéis prateados nos dedos. Uns dois. Um no dedão, como um aro, um bambolê com certo volume. Outro no dedo médio, uma jóia, nada verdadeira, mas que passa um ar romântico de alguém que espera algo. E eu estaria esperando. Eu estaria esperando você de fantasia. Algo irreconhecível por favor, que eu só saberia pelos traços e detalhes da sua pele à mostra - que eu já conheço bem. Mas eu não vou te desenhar, não vou te traduzir. Vou permitir que você o faça, que você tenha seu próprio personagem e que esse a siga sem ser atrapalhado por sombras e fantasmas que os outros inventam. E esse personagem que criaram para mim, e essa roupa de monstro que me fizeram vestir em momentos peculiares está guardada no armário. Eu não a uso, mas a tenho - dentro de mim.
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