Lá estou eu, saindo de algum túnel, metrô, o que seja, no Rio de Janeiro. Uma menina que eu não conhecia me abraçava e dava em cima de mim, enquanto outras me olhavam com desprezo e outras ainda me olhavam com curiosidade e interesse. Mas isso não é importante.
A gente estava saindo, pessoas coloridas e fashion. Do tipo que ainda não vi no Rio de Janeiro efetivamente. Mas elas estavam lá.
Aparece um garoto. Da nossa pouca altura. Da altura delas, pelo menos. De relance, parecia mais um do grupo, mas depois notei que ele tava roubando celulares. Ele com uns 10 bonés na cabeça, uma mochila, uma bermuda e uma camiseta. Muito bom furtador, mas eu o vi. Tirei os bonés da cabeça dele. Ele ficou puto e veio me roubar. Segurei as mãos dele e ele mesmo assim conseguia mexer nos meus bolsos, tirando alguns papéis quadrados e dobrados com detalhes que eu não podia perder. Eu pedia, "não, deixa os papéis aí, eu preciso deles, por favor!". Mas ele não devolvia. Ele pegou no meu celular e eu segurei mais forte a mão dele. Até que dei uma joelhada no saco dele. Ele saiu correndo. Deixando pra trás os papéis quadrados no chão, a mochila dele, os bonés que saíram da cabeça dele e meu celular - esse ele não conseguiu tirar da minha cintura.
Cheguei no Hotel, com a ajuda dos papéis quadrados (eu disse que eles eram importantes), abri a mochila. Vários e vários celulares. Pensei: devo devolver, mas não posso devolver assim, podem pensar que é um seqüestro, que é armação. No meio tempo, ninguém ligava pra saber do celular. Basicamente, tinham desistido. Pensei de novo: vou ligar pra polícia e vou contar o que aconteceu. Não vou entregar os celulares, porque eles nunca vão chegar aos donos. Eu mesmo quero devolver em mãos. E quero alguém pra me defender do lado. Algum policial de preferência (por mais que eu não confie tanto em policiais).
Enfim consegui conversar com um policial ou arrumar um jeito, não lembro exatamente. Liguei para a 'casa' de um dos donos dos celulares.
- Olha seguinte, isso não é um trote. Eu consegui pegar a mochila de um pivete que tava tentando me assaltar e tava cheio de celular. E um deles é esse. Eu não tenho idéia de quem é o dono, mas gostaria de devolver. Se você se sentir melhor, pode vim com polícia ou algo assim, só pra você ter certeza que não é trote. Eu te encontro na delegacia de polícia da rua tal.
Eu só queria provar que existe gente boa no mundo. Porque eu poderia ficar com todos os celulares.
Os cigarros que encontrei: um Carlton Mint e outros de uma marca que nunca vi na vida (porque elas não existem). O Carlton eu peguei e peguei um maço da outra marca pra experimentar, exatamente porque nunca tinha visto . Mas fui pro lugar marcado com a mochila, o celular na mão e perguntei se havia mais coisa que fosse da pessoa. Com honestidade, sejam honestos como eu estou sendo.
É. Só em sonho pra haver tanta honestidade assim. Mas se eu encontrasse tal bolsa, eu devolveria os celulares na vida real também.