18.11.11

Ridícula


Às vezes a gente fica sensível assim desse jeito que eu não gosto e aí dá vontade de engatinhar para debaixo da coberta e ficar quietinha, esperando o dia passar. Mas o dia passa quente e o pensamento de ficar debaixo da coberta torna-se uma coisa insuportável. Mesmo o pensamento. E aí dá vontade de chorar. Chorar. Não gosto de chorar. Não tem motivo. Me deixa em paz sensibilidade essa nada bem vinda!

Às vezes também bate uma carência de companhia, de carinho. Carência essa que se alonga de muitos anos a fio. Não pude nunca resguardar-me embaixo das cobertas, em posição fetal. Isso era fraqueza e não tinha mão alguma com toque carinhoso. Era fraqueza. E ela não gostava disso.

Às vezes dá vontade de voltar para a asa da mamãe. Mas a mãe fala demais agora, porque eu não cabo mais lá debaixo e aí não sou levada a sério nessa sensibilidade horrível. Ah! Pára com isso, ela diria. E eu concordaria e engoliria a seco o ar que eu mal respiro.

Aí, no fim das contas, o que resta é nada. Tantos anos assim, tantos anos e eu nunca aprendi a deixar de lado essa sensibilidade mal vinda. Tantos anos e eu não aprendi a viver com minha sensibilidade solitária. Tantos anos e eu mesma falando para eu deixar de besteira. Isso é fraqueza. Ninguém gosta disso. Nunca vai ter carinho. Carência é ridículo. E eu continuo assim. Ridícula.

À espera de carinho.


Ridícula mesmo.

20.9.11

Recomeço

Quando saíste por aquela porta, nenhuma lágrima se derramou. Uma sensação de alívio tomou meu corpo. Os ombros ficaram moles que se fossem pernas deixariam-me tombar. Não caí. Eu estava sentada observando a nova textura da parede. Novos desenhos se montavam na minha cabeça. Via o rosto de várias, vários, da vida. Eu vi a liberdade. Não pensava naquela hora, eu sentia. E sentia tudo muito certo, afiado. Sabia definir todas as sensações, eu sabia, eu sabia.

Era isso que eu queria, não era? Ser-me só, livre? Ser-me só e deixar-me sentir as emoções do só. As boas e as ruins. Mas eu falei isso no momento bom e menti para mim.

Senti a falta do ruim e não sinto mais. Essa angústia de dentro; remoi, agonia-me. A necessidade de alguém (não dela). Caminhei pelo lado errado e muito rápido. Tenho que voltar. Será que os pássaros já acharam as migalhas e me farão perder-me? Contudo/com tudo, com medo eu quero voltar. E o caminho está trilhado como se lá tivesse passado mais de mil vezes. E talvez passei.

O chão é vermelho. As folhas secas são vermelhas e muitas, mas nos deixam ver as pedras chatas, presas ao chão como pegadas que levarão a algum lugar. Mesmo com todas aquelas árvores derramadas, elas eram cheias, cabeludas, de caule marrom e folhas pretas da silhueta do sol atrás e não se sente. As folhas também parecem secas. É dia; mas está escuro na sombra, e frio. Até então, segurava sua mão. Ela estava lá olhando a beleza em volta, enquanto eu a abraçava. Meus braços se encontravam ao redor da cintura fina dela. Ela se encostava em metade de mim. A outra metade estava inclinada para trás, de braços abertos, como se quisesse voar. Se eu a soltasse, ela cairia nas folhas secas. Não se machucaria. Ou talvez sim se batesse a cabeça na grande pedra, que de praxe me serve de banco ou encosto. Seus cabelos tombavam para trás e seu sorriso brilhava num feixe de luz que só a iluminava. Mais nada, mais ninguém. Lindo, linda, paz. Uma felicidade gritante me consome. Gasto-a toda, de uma vez. De uma só vez, sem moderação. Olho-a, fito-a. E fecho meus olhos. Seria a última vez que eu a veria. Mesmo sentindo-a ainda abraçada a mim, ela não está mais lá. Nem ela, nem o feixe de luz. Agora faz frio e está mais escuro. Me encosto naquela pedra e deixo uma lágrima cair. A pedra está quente e me aquece, enquanto eu a refresco com uma lágrima. Só uma lágrima.

É aqui que me encontro. Não mais encostado na pedra. Levanto-me, deixo minha cabeça pender para trás e olho para cima. Ainda tem esperança. Vejo o caminho de volta. O outro de ir para a frente também. Não sei onde ela está e tenho vontade de seguí-la. O caminho para frente são vários, vários.

Quando comecei a escrever, já havia me sentado na pedra com meu lápis e meu bloco de papel amarelo, pensava em voltar ao início. Agora eu não sei mais. Voltar é covarde ou prudência? Seguir é burrice ou ousadia?

A pedra me abraçou. Vou dormir aqui por alguns segundos, minutos, horas. Vou ficar aqui até o vento bater; e me levar para onde quiseres que eu voe.

27.8.11

HIGH SCHOOL CREATIVITY

Au contraire of most great famous people I’ve heard about, I wasn’t bad in school. I mean, I wasn’t good as well, but I wasn’t definitely bad. I was, in certain cases, insignificant. I mean, I was an average student who didn’t talk at all. Which by the way, helped me a lot to go through school. Well, if they didn’t notice how bad I was and how I actually didn’t do as much homework as I should, maybe I wouldn’t have left school ever. I’m just kidding. I was always very great at the ass-kissing technique towards the teachers, at a certain point that if the teacher didn’t fall into my most creative explanations or excuses, I’d get mad at them. I mean, everybody else believed it, why can’t you? Do you think I’m lying? Is that it? Why don’t you believe that the dog ate my homeworks? All the other teachers seemed to have bought it just fine!


But the main point is that I was very quiet. Really. What I didn’t talk in class, I started talking after, or with my friends, which I didn’t have many of course. How can you make friends if you don’t talk at all at first? But with this non-talking situation, I had the chance to imagine things. So probably you can picture my face looking at the blackboard if that was the case, but really, my mind was anywhere else but the blackboard. In fact, I used to pass most of my time in school writing or drawing. It was a very creative moment for me. If you ask me, was anything good? I tell you now that it wasn’t, but that still doesn’t take the merit of the amount of creativity I had. I mean, I was 15. Really? Do you expect me at age 15 to have something good to say? I mean, do you expect anyone at age 15 to have something worthwhile reading? Maybe at the time it was good. My friends all seemed to like it when I showed it to them, but really today? It sucks. It completely and entirely sucks.


Nevertheless I was there, imagining, writing. And in a class of 40 students or more, there’s always someone talking, gossiping about something or just sharing some idiotic news. Not me, because I didn’t talk at all. And I remember looking at the teacher, without saying a word of course, and waiting for them to do something, to make them shut up. Sometimes I’d look at the talkers, that were usually sitting behind me since I was always upfront, I would look at them with that eye: really? Would you please shut up and allow me pay attention? Pay attention to what I was doing. Not the class, of course. They were disturbing my imaginative moment, those suckers.

5.6.11

Quem é você?

Estranho como as coisas antigas insistem em voltar. Não antigas de velho. Talvez envelhecidas pelo tempo, poluição, trabalho, preocupações. A gente volta. As gentes voltam. E voltam sem voltar. Voltam como nostalgia presente. Vê-los hoje me lembra dos tempos de antes. Me lembram de como eram e me fazem ponderar como mudaram, como chegaram na situação atual de hoje, quais foram os caminhos que percorreram, por quais experiências passaram. Me fazem desenhar duas retas históricas, a trajetória de vida em dois caminhos que tomaram em algum momento rumos diferentes. Talvez porque me mudei. Talvez porque mudamos. Onde estão os outros? Será que temos alguma coisa em comum? Quem serão eles? Eu os conheço? Talvez tivemos relação como de vida passada. Olho para ti e te reconheço de alguns traços que ficam mesmo depois de anos. Mas não te conheço 0 hoje. Quem é você?

1.6.11

A Porta

“Deixe-me só”. Essa foi sua última palavra quando saiu por aquela porta marrom de madeira comum. E ela falou dessa forma: deixe-me. Quem fala assim hoje em dia? Seria mais um ataque de raiva e ela voltaria mais tarde com uma tromba enorme de elefante, trocaria de roupa e deitaria na cama sem dar um pio, nem olhar para minha cara? Fiquei alguns minutos esperando e ponderando. Pedindo por aquele ataque de raiva. Mas, na verdade, ela estava mais calma do que nunca. Sua cabeça não estava baixa. Seus olhos não continham lágrimas. Não tinham nada. Parecia um vácuo azul - e pensei eu que o vácuo seria de cor preta. Os dela eram azuis. Não tinha nada. Fiquei rezando para que minha visão deturpada de lágrimas para cair e a falta de óculos estivessem me enganando. Fiquei rezando para que ela voltasse por aquela porta marrom suja. Mesmo não sabendo rezar, mesmo não tendo rezado um dia sequer na minha vida toda: eu rezava. Não me ajoelhava como nos filmes, só rezava. Algumas horas se passavam e eu tentava me entreter com a televisão quase no último volume, mas eu só queria ouvir a porta marrom cocô abrir. Prestava atenção ao silêncio de uma sala barulhenta. E o ouvia mais ensurdecedor e doído que mil alfinetadas pelo corpo. Não sabia rezar. E pedia. Implorava. Não por perdão. Não o pediria. Mas implorava que não houvesse uma droga de uma porta porcaria marrom. Quis socá-la, quis chutá-la, mas nada fiz. Só fiquei imaginando jogar-me contra a porta e não a quebrar. Deslizar por ela até o chão, em lágrimas agora marrons. Mas não o faria. Estávamos eu e ela azuis. Secos. Cansados. Abandonados. Deixados “só”.

“She’s gone to the movies now and she’s not coming home”. (Semisonic)