Postar opinião própria no face está ficando cada vez mais arriscado. Mas vamos lá à tal campanha hashtag somos todos macacos.
Não sabendo como pensar sobre o assunto, fui pesquisar opiniões, pontos de vistas e, principalmente, História - daquelas que a gente não aprende na escola. Foi pouco ainda, eu sei. Mas eis aonde cheguei até agora.
Não consigo redesenhar toda a minha reflexão até o presente momento, mas é mais ou menos assim:
O jogador falou que ele tratou com indiferença e como forma de descontração, ele comeu a banana. Ok. Repetindo quase algumas palavras que eu li, essa foi a forma do jogador de lidar com o problema. Mas de fato, brincar e descontrair não vai acabar com o racismo.
Aí começa a campanha dos artistas dizendo que somos todos macacos. Em um primeiro momento, pensei "tá", mas tenho costume de duvidar sempre de tudo que sai da televisão (por televisão entenda celebridades e/ou jogo de marketing). Foram várias críticas quanto a isso. De vários estilos e procedências. Mas uma contra-crítica me marcou: uma moça comentou da re-significação do pejorativo termo macaco. O que fazer agora? Achar bonitinho a atitude dos artistas? Não. Pesquisar. História. The ape insult pra ser mais específica (depois coloco os links que li). No fim da história é o seguinte: essa campanha não vai acabar com o racismo. Re-significar a palavra macaco não vai acabar com o racismo. Racismo não é só uma palavra, é um conjunto relações de significações que foram criadas (inventadas mesmo) e que ainda existem - e muito forte - no imaginário coletivo. A "pejoratividade" do termo poderia até diminuir, mas as relações imagéticas históricas (sem História - ironia) permancem. E como desconstruir isso? Ao meu ver, com visibilidade, com conhecimento, com movimentos sociais, com política, com voz.
Não a voz dos artistas comedores de banana. A voz dos negros.
Pára e escuta.
Sobre o ponto de vista do jogador.
http://www.jn.pt/blogs/nosnarede/archive/2014/04/28/jogador-do-barcelona-d-225-li-231-227-o-anti-racismo-em-campo.aspx
Crítica (e contra-crítica nos comentários.
http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/
Crítica e História.
http://culti-e-popi.blogspot.com.br/2014/03/porque-comparar-negros-macacos-nao-e.html
Em inglês. The ape insult: a short history of a racist idea. Escrito por James Bradley.
https://theconversation.com/the-ape-insult-a-short-history-of-a-racist-idea-14808
Quase um monólogo
29.4.14
2.12.13
Amor (OUTUBRO 2013)
Primeiro foi o beijo. Depois o sexo. Depois as flores. Depois o carinho diferente. Depois o amor. Sempre foi assim. Um depois do outro. O beijo. O sexo, as flores, o carinho, o “eu te amo”. Tudo sempre teve uma ordem certa. Eu sabia quando me apaixonar. Eu sabia como falar tudo que eu sentia. Sem medo. Relacionamento após relacionamento eu jurava ter encontrado a mulher da minha vida. O sexo sempre melhorava. Cada vez mais fazia mais sentido. Tínhamos gostos parecidos. Ela sempre me inspirava a fazer algo novo. Ou a fazer algo, for that matter. Estudar, escrever, desenhar. O amor sempre me inspirava, me movia. Olha eu aqui falando como se fosse coisa passada. Ainda faz. O amor me move. O amor me inspira, me fascina. Sou artista, oras. Preciso do amor. O amor depois do carinho, das flores, do sexo e do beijo.
É como se eu estivesse numa montanha-russa minha vida inteira – está aí porque não gosto do brinquedo de verdade. No começo está tudo sob controle. Estamos subindo. Tem sorrisos, tem conversa. Ela segura a minha mão. E lá em cima: amor. O pico, o mais alto que dá pra chegar. Lá de cima tudo se vê. Se tiver uma cidade toda ao redor, é isso que veremos. Se for uma grande floresta de árvores majestosas, veremos então estas, de um ângulo fantástico, como se, nesse momento, fossemos a luz que passa por entre as copas. Mas o brinquedo não para no pico. Decerto que o tempo lá em cima é mais lento. O movimento é mais lento. É quase um orgasmo. O mundo parece parar.
Mas não para.
Fui numa montanha-russa uma vez na minha vida. Uma pequena, sem loop nem nada. Mas foi assim que me senti: estava apavorada, mas entrei. Coloquei o braço de segurança, o sinto, rezei, evoquei meus santos protetores –eu, a ateia – e fui. Estava tudo bem na subida, sentia o vento fluir no meus cabelos. Não tinha a mínima ideia do que me aguardava. Quer dizer, sabia que tinha a descida, mas sempre via todos aqueles rostos assustados e felizes, gritos de adrenalina. Loucos. Quando começamos a descer, eu perdi o controle. Segurava com tanta força na barra que machuquei meus dedos. Sabia que se o braço de segurança não funcionasse, eu morreria. Eu não teria força para me segurar. Fomos descendo em curva. Para o meu desespero: para a direita, a merda do lado que escolhi sentar. Via o chão do alto. Naqueles segundos imaginei todas as maiores catástrofes que poderia acontecer num parque de diversões. Comigo. Para piorar tudo, o carrinho começou a subir novamente. Não estava mais tranquila nem na subida. Sabia que tudo se repetiria. E não tinha mais forças. Minhas mãos estavam doendo. Meu sangue parara de fluir e eu estava mais branca do que jamais estive em toda a minha existência. Na segunda descida chorei. Mais por dentro do que por fora, naqueles desesperos que não expõem lágrimas. Saí apoiada. Pessoas ao meu redor sorriam, na felicidade delas. Alguns pensaram que eu ia desmaiar. Mas não. Eu só queria sair de lá, sair de perto daquele brinquedo. Como um mandado de segurança, queria que aquele brinquedo não me perseguisse mais e que a distância mínima entre a gente fosse de dez metros. Dez metros a cada ano que eu aniversariasse, em progressão.
Não me lembro muito do depois. Se sentei e fumei um cigarro. É bem provável que sim. Quando se acha que a morte passou perto, fumar um cigarro é um jeito bem irônico de mandá-la se fuder, com o perdão do termo –Constantine.
Bom, o amor é bem isso aí. Nem tão lento, nem tão rápido. O tempo é diferente. Mais o percurso é o mesmo, quase. Uma subida, uma descida. Depois outra subida e uma descida mais desesperadora. E ainda tem otários que continuam andando nesse brinquedo idiota. Otários como eu.
A última montanha-russa que namorei tinha loop. Um loop gigantesco. Sabe o pico? É, a gente sobe, ama, desce, fica de cabeça para baixo, mas ainda no alto, e desce de novo e nas curvas já se está bêbado demais para lembrar de quem foi a culpa de entrar naquela bosta. Quando acaba eu choro. Peço para andar de novo. Falo que não tenho medo – idiota e mentirosa, ainda por cima. Cheguei até a sentar no carrinho esperando ele andar. Sentei lá por quatro meses inteiros. Peguei chuva, sol, vento. Bebi bastante durante esse tempo parada. Não produzi. Nem banho tomei. Conheci algumas pessoas interessantes que vinham me perguntar, com estranhamento, o que eu estava fazendo lá e por que eu chorava. É claro que por maior que seja o coração dessa gente, ninguém ia ficar passando perrengue lá à toa. Me falavam de outras montanhas-russas, mas eu só andaria de novo naquele brinquedo se fosse o mesmo. Não iria me arriscar mais por ninguém.
Mas alguém veio com um beijo. E com sexo. E com flores. Talvez tenham sido as flores, talvez antes. Quando saía daquele carrinho que eu habitava há quatro meses, ele deu um tranco. Ameaçou andar. E eu sem braço de proteção, sem nada, gritei. Pouco antes da ascendência, eu consegui sair. Fugi. Tive um medo desesperador de sentir tudo aquilo de novo. Imagina só! Um loop! De novo não. Não sei o que aconteceu com o carrinho. Acho que ele foi sozinho, ou alguém subiu nele logo depois que eu fugi. Eu não olhei para trás. Não queria me sentir daquele jeito nunca mais, nunca mais.
Mas, como eu havia começado a falar antes, alguém veio comum beijo. E com o sexo. E com as flores. E com o carinho. Tudo tinha uma ordem certa. Uma ascendência estilo montanha-russa. O sexo é melhor que todos os outros. Temos gostos e jeitos parecidos. Ela me inspira a estudar, escrever e desenhar. Sou artista mesmo. Poeta de prosa. Contos curtos de parque de diversões – nada divertidos, a não ser pela comida, haha. E o amor?
É aí que a coisa para de fazer sentido. Não sei mais falar o que eu sinto. Tenho um medo tão absurdo que come todas minhas frases e deixa cair migalhas – ironia: você pode ver/saber pequenas palavras e sílabas do que quer dizer, mas será impossível formar uma frase com o que sobrou. Amor, sim. Amor ainda tem (tenho). Afinal, estou escrevendo, não é mesmo? O amor me inspira. O que faltava descobrir é que o meu amor me inspira. Omeu amar. E én esse meu que se aloja a montanha-russa. O que eu descobri, meio que por acaso, é que eu sempre fui sozinha (com uma exceção que não merece a remoção do sempre).
Se era tanto um brinquedo assustador, porque sua falta me faz falta? Onde está o parque de diversões ao redor? Casas mal-assombradas ainda tem (ex). Comida? Sim: milho verde, algodão-doce, pipoca, sorvete. Palhaço? Com certeza sou eu – assumindo, por um instante incerto, que tem palhaço em parque de diversão, sim. Mas cadê os brinquedos?
O conhecido é fácil. Conheço montanhas-russas. Conheço parques. Sei aonde fica tudo em um parque. Sei atirar e ganhar bichinhos de pelúcia para dar para a namorada. Sei que não se corre na pista do bate-bate, porque senão você leva um tombo fantástico e, nesse mesmo brinquedo, sei dirigir fugindo da batida – direção defensiva desde criancinha. Sei onde fica a roda-gigante e, apesar de nunca ter subido numa – sei que de lá de cima a vista é melhor do que de todos os outros brinquedos. Sei onde está o barco-pirata e o quero longe, muito obrigada, meu estômago enjoado agradece. É, meu parque não é muito grande, nem muito variado. Sou de Brasília, por favor. Parques de diversão aqui, que eu conheço, só o Nicolândia: pequeno, sujo e velho.
[Momento lembrança: quando eu era pequena, eu gostava do parquinho. Gostava da nave espacial, da ponte que a gente atravessava até conseguir chegar na nave – um brinquedo só – para competir com as outras crianças de quem descia mais rápido. Era sempre qualquer outro que não eu. Não acho que se brinca com altura. Mas tinha que descer mais rápido, senão os outros pestinhas me pisavam a mão.]
Aonde eu estava? Ah, sim. O conhecido, mesmo que apavorante, é mais fácil. O que é pior? Fazer mil exercícios de matemática ou resolver um problema gigante que você já sabe de cabo-a-rabo como se faz? Pra quem gosta de matemática, por favor, desconsidere essa última metáfora. Enfim, o familiar é seguro.
Então o que se faz quando você não sabe de mais nada? Isso, boa ideia: senta e chora.Só que não.
Isso eu realmente não posso responder. Não sei a resposta, não sei como seguir. Só sei que comecei falando de amor. E terminei com gírias contemporâneas e uma escrita com muita oralidade. Mas eu havia avisado antes que não sabia mais falar.
O amor? O amor ainda tem. Veja só, consegui chegar até aqui.
Só não sei como continuar sozinha.
04/10/2013
Vinho e Bowie (baseado em uma história quase completamente real) (AGOSTO 2013)
Não tinham muito em comum, mas sabiam que se amavam. Fazia pouco tempo. Pouquíssimo mesmo. Ele novo, ela nem tanto. Como história de Legião. Ele gay, ela lésbica. Se conheceram meio que sem querer por entre palavras e amigos e histórias. Apaixonaram-se. Não tinham muito em comum senão o gosto pelo bonito, pelo carinho. Gostavam das mesmas músicas e falavam quase as mesmas frases. Ela, por vezes, burburinhava em francês, pelo prazer do cult. Ele não. Tinha mais de frases curtas e certeiras, daquelas que acertavam bem em cheio o coração - dela.
Não se viam sempre. Ela, trabalhando. Ele, estudando, pintando. Era um exímio artista. Ela escrevia. E se amavam na arte. Era como se fosse uma arte de amar. Não tinham muito conhecimento sobre as habilidades artísticas um do outro. Conheciam pouca coisa, mas tinham uma admiração que parecia ter vindo de outras vidas. Então o que amavam era o amar. E não era nenhum amor carnal. Era daqueles puros que não se vê mais nem em contos de fadas.
Amavam se amar. Se amavam virtualmente. Combinavam encontros artísticos, mas a rotina impedia que esses episódios acontecessem. E ficavam assim: amando a imagem virtual do outro. Idealizando um encontro com vinho - se tivessem dinheiro para fazer isso acontecer. Vinho de 18 reais para cima, por favor. Pelo Bowie. Pelo gosto do cult, o novo cult pobre - aquele que gasta suas economias no deleite da arte, com um vinho; a culpa é do vinho.
Trocavam carícias em palavras. Palavras de carinho, de admiração, de amor. E nunca haviam se abraçado. Talvez uma vez como quem acabou de se conhecer. Mas não tinha acontecido qualquer outro abraço sequer até o presente dia. Mas tinha amor. E uma vontade mútua de se fazerem bem. Seja por solidão ou carência. Estavam ali, um para o outro, como se não houvesse ninguém mais. E não havia. Falavam em casamento como se aquilo pudesse dar certo. Sabiam que não. O amor era puro. Não econômico, não patrimonial. Não era um contrato. Era um acordo, um partilhar de bens abstratos: amor, carinho, arte, beleza. Se tivessem mais em comum, se amariam mais. Mas aquele tanto já era o bastante. Sabiam pouco e aquele conhecimento era suficiente.
Ali, entre os dois, não tinham medo algum da desilusão.
quase
Personagem/Imagem (MARÇO 2012)
Se as pessoas criam personagens/imagens, permita-me então, criar um eu, como uma criança teimosa que quer ser do jeito que ela bem entender - e que não sou.
Eu seria uma fantasia alta, quase altiva. Colorida, não como um palhaço, mas uma cor que chamasse atenção das outras cores que não chamam. A blusa seria em tamanho maior, sobressaindo-se do tamanho do meu corpo, caindo para um lado, como se eu não tivesse escolha e se pudesse cair. A calça seria justa, com culotes mais avantajados para brincar de bobo da corte quando assim me desse vontade. Usaria sapatos de couro vinho com desenhos femininos, costurados em sua lateral. Penso nesses sapatos que acho deveras lindo, mas não os compro porque não saberia com o que usar. Para terminar o personagem, haveria uma máscara, claro. Um máscara prateada, glamourosa, estonteante. Brilhante ao redor e com cores desenhadas nela, por um artista que não eu, pois não tenho traços assim marcantes.
Apesar da exatidão da escolha da roupa, ela não seria exata. Como todos no mundo, ela teria defeitos - até porque minhas habilidades de costura não permitem perfeição. Ela teria costuras duplas, algumas linhas soltas, alguns fios à mostra e algumas falhas de ponto. Teria alguns buracos de costura usada e desgastada, bem como uma pessoa que já viveu o bastante para os tê-los. Algumas linhas são visíveis, mas os desgastes são recalcados. Aparecem de bem perto, mesmo que não necessitem tamanha atenção para vê-los.
Para completar o look e deixar a coisa mais exótica, pequenas luvas cobririam minhas mãos, como se eu tivesse nojo de tocar algo com a palma, mas não com as pontas dos dedos. Protegeriam meus pulsos e parte da minha mão. Seriam de listras de tons de azuis claros, quase brancos. Permitiriam anéis prateados nos dedos. Uns dois. Um no dedão, como um aro, um bambolê com certo volume. Outro no dedo médio, uma jóia, nada verdadeira, mas que passa um ar romântico de alguém que espera algo. E eu estaria esperando. Eu estaria esperando você de fantasia. Algo irreconhecível por favor, que eu só saberia pelos traços e detalhes da sua pele à mostra - que eu já conheço bem. Mas eu não vou te desenhar, não vou te traduzir. Vou permitir que você o faça, que você tenha seu próprio personagem e que esse a siga sem ser atrapalhado por sombras e fantasmas que os outros inventam. E esse personagem que criaram para mim, e essa roupa de monstro que me fizeram vestir em momentos peculiares está guardada no armário. Eu não a uso, mas a tenho - dentro de mim.
18.11.11
Ridícula
Às vezes a gente fica sensível assim desse jeito que eu não gosto e aí dá vontade de engatinhar para debaixo da coberta e ficar quietinha, esperando o dia passar. Mas o dia passa quente e o pensamento de ficar debaixo da coberta torna-se uma coisa insuportável. Mesmo o pensamento. E aí dá vontade de chorar. Chorar. Não gosto de chorar. Não tem motivo. Me deixa em paz sensibilidade essa nada bem vinda!
Às vezes também bate uma carência de companhia, de carinho. Carência essa que se alonga de muitos anos a fio. Não pude nunca resguardar-me embaixo das cobertas, em posição fetal. Isso era fraqueza e não tinha mão alguma com toque carinhoso. Era fraqueza. E ela não gostava disso.
Às vezes dá vontade de voltar para a asa da mamãe. Mas a mãe fala demais agora, porque eu não cabo mais lá debaixo e aí não sou levada a sério nessa sensibilidade horrível. Ah! Pára com isso, ela diria. E eu concordaria e engoliria a seco o ar que eu mal respiro.
Aí, no fim das contas, o que resta é nada. Tantos anos assim, tantos anos e eu nunca aprendi a deixar de lado essa sensibilidade mal vinda. Tantos anos e eu não aprendi a viver com minha sensibilidade solitária. Tantos anos e eu mesma falando para eu deixar de besteira. Isso é fraqueza. Ninguém gosta disso. Nunca vai ter carinho. Carência é ridículo. E eu continuo assim. Ridícula.
À espera de carinho.
Ridícula mesmo.
20.9.11
Recomeço
Quando saíste por aquela porta, nenhuma lágrima se derramou. Uma sensação de alívio tomou meu corpo. Os ombros ficaram moles que se fossem pernas deixariam-me tombar. Não caí. Eu estava sentada observando a nova textura da parede. Novos desenhos se montavam na minha cabeça. Via o rosto de várias, vários, da vida. Eu vi a liberdade. Não pensava naquela hora, eu sentia. E sentia tudo muito certo, afiado. Sabia definir todas as sensações, eu sabia, eu sabia.
Era isso que eu queria, não era? Ser-me só, livre? Ser-me só e deixar-me sentir as emoções do só. As boas e as ruins. Mas eu falei isso no momento bom e menti para mim.
Senti a falta do ruim e não sinto mais. Essa angústia de dentro; remoi, agonia-me. A necessidade de alguém (não dela). Caminhei pelo lado errado e muito rápido. Tenho que voltar. Será que os pássaros já acharam as migalhas e me farão perder-me? Contudo/com tudo, com medo eu quero voltar. E o caminho está trilhado como se lá tivesse passado mais de mil vezes. E talvez passei.
O chão é vermelho. As folhas secas são vermelhas e muitas, mas nos deixam ver as pedras chatas, presas ao chão como pegadas que levarão a algum lugar. Mesmo com todas aquelas árvores derramadas, elas eram cheias, cabeludas, de caule marrom e folhas pretas da silhueta do sol atrás e não se sente. As folhas também parecem secas. É dia; mas está escuro na sombra, e frio. Até então, segurava sua mão. Ela estava lá olhando a beleza em volta, enquanto eu a abraçava. Meus braços se encontravam ao redor da cintura fina dela. Ela se encostava em metade de mim. A outra metade estava inclinada para trás, de braços abertos, como se quisesse voar. Se eu a soltasse, ela cairia nas folhas secas. Não se machucaria. Ou talvez sim se batesse a cabeça na grande pedra, que de praxe me serve de banco ou encosto. Seus cabelos tombavam para trás e seu sorriso brilhava num feixe de luz que só a iluminava. Mais nada, mais ninguém. Lindo, linda, paz. Uma felicidade gritante me consome. Gasto-a toda, de uma vez. De uma só vez, sem moderação. Olho-a, fito-a. E fecho meus olhos. Seria a última vez que eu a veria. Mesmo sentindo-a ainda abraçada a mim, ela não está mais lá. Nem ela, nem o feixe de luz. Agora faz frio e está mais escuro. Me encosto naquela pedra e deixo uma lágrima cair. A pedra está quente e me aquece, enquanto eu a refresco com uma lágrima. Só uma lágrima.
É aqui que me encontro. Não mais encostado na pedra. Levanto-me, deixo minha cabeça pender para trás e olho para cima. Ainda tem esperança. Vejo o caminho de volta. O outro de ir para a frente também. Não sei onde ela está e tenho vontade de seguí-la. O caminho para frente são vários, vários.
Quando comecei a escrever, já havia me sentado na pedra com meu lápis e meu bloco de papel amarelo, pensava em voltar ao início. Agora eu não sei mais. Voltar é covarde ou prudência? Seguir é burrice ou ousadia?
A pedra me abraçou. Vou dormir aqui por alguns segundos, minutos, horas. Vou ficar aqui até o vento bater; e me levar para onde quiseres que eu voe.
Era isso que eu queria, não era? Ser-me só, livre? Ser-me só e deixar-me sentir as emoções do só. As boas e as ruins. Mas eu falei isso no momento bom e menti para mim.
Senti a falta do ruim e não sinto mais. Essa angústia de dentro; remoi, agonia-me. A necessidade de alguém (não dela). Caminhei pelo lado errado e muito rápido. Tenho que voltar. Será que os pássaros já acharam as migalhas e me farão perder-me? Contudo/com tudo, com medo eu quero voltar. E o caminho está trilhado como se lá tivesse passado mais de mil vezes. E talvez passei.
O chão é vermelho. As folhas secas são vermelhas e muitas, mas nos deixam ver as pedras chatas, presas ao chão como pegadas que levarão a algum lugar. Mesmo com todas aquelas árvores derramadas, elas eram cheias, cabeludas, de caule marrom e folhas pretas da silhueta do sol atrás e não se sente. As folhas também parecem secas. É dia; mas está escuro na sombra, e frio. Até então, segurava sua mão. Ela estava lá olhando a beleza em volta, enquanto eu a abraçava. Meus braços se encontravam ao redor da cintura fina dela. Ela se encostava em metade de mim. A outra metade estava inclinada para trás, de braços abertos, como se quisesse voar. Se eu a soltasse, ela cairia nas folhas secas. Não se machucaria. Ou talvez sim se batesse a cabeça na grande pedra, que de praxe me serve de banco ou encosto. Seus cabelos tombavam para trás e seu sorriso brilhava num feixe de luz que só a iluminava. Mais nada, mais ninguém. Lindo, linda, paz. Uma felicidade gritante me consome. Gasto-a toda, de uma vez. De uma só vez, sem moderação. Olho-a, fito-a. E fecho meus olhos. Seria a última vez que eu a veria. Mesmo sentindo-a ainda abraçada a mim, ela não está mais lá. Nem ela, nem o feixe de luz. Agora faz frio e está mais escuro. Me encosto naquela pedra e deixo uma lágrima cair. A pedra está quente e me aquece, enquanto eu a refresco com uma lágrima. Só uma lágrima.
É aqui que me encontro. Não mais encostado na pedra. Levanto-me, deixo minha cabeça pender para trás e olho para cima. Ainda tem esperança. Vejo o caminho de volta. O outro de ir para a frente também. Não sei onde ela está e tenho vontade de seguí-la. O caminho para frente são vários, vários.
Quando comecei a escrever, já havia me sentado na pedra com meu lápis e meu bloco de papel amarelo, pensava em voltar ao início. Agora eu não sei mais. Voltar é covarde ou prudência? Seguir é burrice ou ousadia?
A pedra me abraçou. Vou dormir aqui por alguns segundos, minutos, horas. Vou ficar aqui até o vento bater; e me levar para onde quiseres que eu voe.
27.8.11
HIGH SCHOOL CREATIVITY
Au contraire of most great famous people I’ve heard about, I wasn’t bad in school. I mean, I wasn’t good as well, but I wasn’t definitely bad. I was, in certain cases, insignificant. I mean, I was an average student who didn’t talk at all. Which by the way, helped me a lot to go through school. Well, if they didn’t notice how bad I was and how I actually didn’t do as much homework as I should, maybe I wouldn’t have left school ever. I’m just kidding. I was always very great at the ass-kissing technique towards the teachers, at a certain point that if the teacher didn’t fall into my most creative explanations or excuses, I’d get mad at them. I mean, everybody else believed it, why can’t you? Do you think I’m lying? Is that it? Why don’t you believe that the dog ate my homeworks? All the other teachers seemed to have bought it just fine!
But the main point is that I was very quiet. Really. What I didn’t talk in class, I started talking after, or with my friends, which I didn’t have many of course. How can you make friends if you don’t talk at all at first? But with this non-talking situation, I had the chance to imagine things. So probably you can picture my face looking at the blackboard if that was the case, but really, my mind was anywhere else but the blackboard. In fact, I used to pass most of my time in school writing or drawing. It was a very creative moment for me. If you ask me, was anything good? I tell you now that it wasn’t, but that still doesn’t take the merit of the amount of creativity I had. I mean, I was 15. Really? Do you expect me at age 15 to have something good to say? I mean, do you expect anyone at age 15 to have something worthwhile reading? Maybe at the time it was good. My friends all seemed to like it when I showed it to them, but really today? It sucks. It completely and entirely sucks.
Nevertheless I was there, imagining, writing. And in a class of 40 students or more, there’s always someone talking, gossiping about something or just sharing some idiotic news. Not me, because I didn’t talk at all. And I remember looking at the teacher, without saying a word of course, and waiting for them to do something, to make them shut up. Sometimes I’d look at the talkers, that were usually sitting behind me since I was always upfront, I would look at them with that eye: really? Would you please shut up and allow me pay attention? Pay attention to what I was doing. Not the class, of course. They were disturbing my imaginative moment, those suckers.
5.6.11
Quem é você?
Estranho como as coisas antigas insistem em voltar. Não antigas de velho. Talvez envelhecidas pelo tempo, poluição, trabalho, preocupações. A gente volta. As gentes voltam. E voltam sem voltar. Voltam como nostalgia presente. Vê-los hoje me lembra dos tempos de antes. Me lembram de como eram e me fazem ponderar como mudaram, como chegaram na situação atual de hoje, quais foram os caminhos que percorreram, por quais experiências passaram. Me fazem desenhar duas retas históricas, a trajetória de vida em dois caminhos que tomaram em algum momento rumos diferentes. Talvez porque me mudei. Talvez porque mudamos. Onde estão os outros? Será que temos alguma coisa em comum? Quem serão eles? Eu os conheço? Talvez tivemos relação como de vida passada. Olho para ti e te reconheço de alguns traços que ficam mesmo depois de anos. Mas não te conheço 0 hoje. Quem é você?
1.6.11
A Porta
“Deixe-me só”. Essa foi sua última palavra quando saiu por aquela porta marrom de madeira comum. E ela falou dessa forma: deixe-me. Quem fala assim hoje em dia? Seria mais um ataque de raiva e ela voltaria mais tarde com uma tromba enorme de elefante, trocaria de roupa e deitaria na cama sem dar um pio, nem olhar para minha cara? Fiquei alguns minutos esperando e ponderando. Pedindo por aquele ataque de raiva. Mas, na verdade, ela estava mais calma do que nunca. Sua cabeça não estava baixa. Seus olhos não continham lágrimas. Não tinham nada. Parecia um vácuo azul - e pensei eu que o vácuo seria de cor preta. Os dela eram azuis. Não tinha nada. Fiquei rezando para que minha visão deturpada de lágrimas para cair e a falta de óculos estivessem me enganando. Fiquei rezando para que ela voltasse por aquela porta marrom suja. Mesmo não sabendo rezar, mesmo não tendo rezado um dia sequer na minha vida toda: eu rezava. Não me ajoelhava como nos filmes, só rezava. Algumas horas se passavam e eu tentava me entreter com a televisão quase no último volume, mas eu só queria ouvir a porta marrom cocô abrir. Prestava atenção ao silêncio de uma sala barulhenta. E o ouvia mais ensurdecedor e doído que mil alfinetadas pelo corpo. Não sabia rezar. E pedia. Implorava. Não por perdão. Não o pediria. Mas implorava que não houvesse uma droga de uma porta porcaria marrom. Quis socá-la, quis chutá-la, mas nada fiz. Só fiquei imaginando jogar-me contra a porta e não a quebrar. Deslizar por ela até o chão, em lágrimas agora marrons. Mas não o faria. Estávamos eu e ela azuis. Secos. Cansados. Abandonados. Deixados “só”.
“She’s gone to the movies now and she’s not coming home”. (Semisonic)
“She’s gone to the movies now and she’s not coming home”. (Semisonic)
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